A discussão em torno da operacionalização estatística da noção de integração é iniciada na década de 1950 com Werner Landecker a partir do seu artigo “Types of Integration and their measurement”. Nesse artigo o autor problematiza as múltiplas dimensões que compõem a noção de integração, assumindo a necessidade de operacionalizar o conceito em quatro tipos de integração: Problems of index construction are discussed for four types of integration, each of which varies on a continuum of its own. The four types are: the cultural, that is, consistency among the standards of a culture; the normative, or conformity of the conduct of the group to cultural standards; the communicative, or exchange of meanings throughout the group; and the functional, or interdependence among group members through the division of labor (Landecker, 1951: 332). Subjacente a esta opção do autor está a discussão que promove de que se devem evitar generalizações e abstrações da noção de integração, ganhando-se com a medição do conceito se o mesmo assumir subclassificações ou for medido através de índices compósitos e múltiplos indicadores, reconhecendo que uma pessoa pode obter um bom resultado de integração numa área e pior resultado de integração noutra área, tendências que ficariam mescladas num conceito unidimensional.
Tornou-se, pois, consensual ao longo das décadas a ideia de que a integração é um processo multidimensional. No artigo que escreve sobre integração social para a Enciclopédia Internacional das Ciências Sociais, Angell (1968, pp. 380-386) aponta como seminal o artigo de Landecker sobre tipos de integração e sua mensuração (1951), atendendo que é nesse artigo que Landecker distingue integração cultural (consistência em termos das própria regras entre si), integração normativa (consistência entre as regras e a conduta dos indivíduos), integração comunicacional (em que medida a rede de comunicação permeia o sistema social) e integração funcional (grau de interdependência entre as diferentes unidades de um sistema de divisão de trabalho). Oliveira e Gomes (2016) também salientam este artigo de Landecker, destacando a forma como o autor discute os problemas de mensuração associados a um “processo multifacetado que integra diferentes dimensões, sendo umas mais fáceis de medir do que outras atendendo à disponibilidade de informação passível de tratamento estatístico” (2016, p. 23).
A influência da perspetiva de Landecker tem vindo a ser sentida por vários autores subsequentes. Thomas (1992) observa no seu artigo sobre a integração dos imigrantes no Canadá que a integração dos imigrantes é uma preocupação fundamental para os decisores políticos. Segundo este autor, a noção de integração lida com o ajuste recíproco de subgrupos ou partes diferentes de um mesmo sistema social de modo a contribuírem para formar um todo. A integração também implica o uso de redes de comunicação comuns e interdependência funcional ou uma divisão do trabalho entre as partes do sistema, ideias que Thomas credita a Landecker (p. 215). Também Rhein (2002) vê na identificação por Landecker de múltiplas dimensões de integração um avanço interessante nesta matéria (p. 202). Mais recentemente, Morén-Alegret (2017) reconhece, no seu livro sobre integração e resistência em Espanha e Portugal, que é Landecker, entre os cientistas sociais na sequência de Durkheim e Tönies, que alarga o significado de integração, nomeadamente através da identificação de quatro tipos de integração: cultural, normativa, comunicativa e funcional (pp. 11, 12-13).
A noção de integração tornou-se simultaneamente um objetivo principal das políticas relacionadas com a reinstalação de refugiados e outros migrantes, e um assunto de discussão pública significativa. O desenvolvimento de políticas coerentes e o debate público produtivo podem ser, contudo, afetados pelo facto de que o conceito de integração é usado com significados que diferem muito entre si. Com efeito, como Werth, Delfs, e Stevens escreviam em 1998 na introdução a uma publicação do Conselho da Europa sobre a mensuração da integração e respetivos indicadores, nem “integração” nem “migração” são termos muito precisos (p. 8). Desse modo, mesmo uma vez munidos de uma definição operacional de imigrante que delimite o agregado de indivíduos que será considerado como tal, os investigadores interessados em produzir indicadores de integração deparar-se-ão com um novo problema. Tendo estabelecido junto de quem medir, importará então decidir o que medir.
Ao procurarem mobilizar o conceito de integração para o estudo dos imigrantes na Europa, Werth e colaboradores (1998) concluem que apesar de as definições de integração variarem, as dimensões fundamentais a considerar são geralmente três: a cultural, a económica e a social. A estas junta-se ainda frequentemente a da participação política e, na medida em que o processo de integração é geralmente referido como recíproco, a própria hospitalidade da sociedade de acolhimento (p. 12). Esta visão tende a perdurar e enquadrou também o debate europeu em torno dos designados indicadores de integração de imigrantes clarificados em 2010 na Declaração de Zaragoza e organizados em quatro dimensões – emprego, educação, inclusão social e cidadania ativa. Segundo Huddleston, Niessen e Tjaden (2013) que – reconhecendo que o desenvolvimento de indicadores de integração de imigrantes é um processo que requer debate constante entre os participantes de modo a identificar, adaptar e melhorar indicadores onde e quando tal prove ser necessário (p. 12) – realizaram vários painéis de peritos como parte da sua investigação, identificando que devem ser atendidos alguns indicadores que poderiam traduzir a componente do processo de integração que diz respeito à sociedade de acolhimento (p. 29), na perspetiva em que se assume também a integração como um processo bidirecional de mútua acomodação da sociedade de acolhimento e da população imigrante.
Com base numa revisão das definições do termo que têm vindo a ser tentadas, na literatura relacionada e no trabalho de campo em locais de reinstalação de refugiados no Reino Unido, Ager e Strang (2008) identificam elementos centrais nas perceções do que constitui uma integração “bem-sucedida”. Domínios-chave da integração são relacionados com quatro temas globais: (1) realizações e acesso ao emprego, à habitação, à educação e à saúde; (2) assunções e prática no que concerne à cidadania e aos direitos; (3) processos de conexão social dentro de grupos e entre grupos na comunidade; e (4) barreiras estruturais a tais conexões relacionadas com a linguagem, a cultura e o ambiente local. Uma estrutura relacionando estes domínios é apresentada como ferramenta para estimular o debate e a definição conducentes a conceções normativas de integração em contextos de reinstalação (Ager e Strang, 2008: 166).
Em suma, assumindo-se de forma consistente na literatura científica que se desenvolveu desde então que a noção de integração é operacionalizada de forma multidimensional - embora essas dimensões têm variado desde Landecker e, inerentemente, os vários indicadores que as compõem -, já há cerca de setenta anos o autor reconhecia ainda que mais relevante que questionar o que é a integração é perguntar como se mede a integração? (cit in Oliveira, 2012: 291). E, inerente, a essa questão fundamental definem-se outras tantas questões que se associam ao desafio de que forma se consegue medir integração ou quantificar a valoração de integração: Under what conditions does social integration increase? Under what conditions does it decrease? What are the consequences of a high degree of integration? What are the consequences of a low degree of integration? (Landecker, 1951: 332). É reconhecido pelo autor ainda que os principais desafios com a medição do conceito de integração são metodológicos: nas palavras do autor, in order to promote substantive research involving diferent aspects of integration, more effort must be spent in developing techniques of measuring integration in its several forms (Landecker, 1951: 340).