Integrado no livro “Reimagining the Higher Education Student: Constructing and Contesting Identitites”, este capítulo centra-se nos significados associados à categoria de “estudante internacional”, partindo da experiência de estudantes angolanos e cabo-verdianos em Portugal. A literatura sugere que os estudantes internacionais são habitualmente vistos como uma elite jovem e cosmopolita. Mas na realidade este grupo de estudantes não é homogéneo, integrando diversas origens geográficas e sociais, assim como diferentes motivações, circunstâncias de vida e tipos de mobilidade. Estes aspetos contribuem para uma complexificação do que significa ser estudante internacional e também da forma como diferentes grupos de estudantes são percecionados pela sociedade de acolhimento. Os resultados de 71 entrevistas semiestruturadas com estudantes angolanos e cabo-verdianos inscritos ou recentemente graduados em instituições de ensino superior portuguesas sugerem que, apesar destes estudantes se enquadrarem no conceito genérico de estudantes internacionais, não é essa a forma como se sentem nem como os fazem sentir. Por um lado, a sociedade portuguesa tende a vê-los como imigrantes ou descendentes de imigrantes das antigas colónias, uma perceção depreciativa a que estão subjacentes preconceitos antigos relativamente aos africanos. Por outro lado, muitos dos estudantes desvalorizam o seu estatuto de estudantes internacionais, favorecendo uma imagem de si mesmos como “imigrantes”. Isto é também reforçado pelas circunstâncias em que vários estudantes se encontram: vários dos estudantes do sexo masculino, por exemplo, trabalham em part-time na construção civil, enquanto várias estudantes trabalham no sector doméstico – empregos que são normalmente assegurados por imigrantes. Assim, tal como em muitas sociedades se verifica uma distinção entre cidadãos e imigrantes de “primeira” e “segunda classe”, também os estudantes internacionais em Portugal com origem em Angola e Cabo Verde são de alguma forma considerados estudantes internacionais de “segunda classe”, dado o preconceito ainda existente na sociedade portuguesa relativamente aos imigrantes das antigas colónias de África. É assim necessário diversificar o significado, a experiência e a personificação do conceito de estudante internacional, em função dos diferentes pontos de vista relacionados com as origens sociais e geográficas dos estudantes, com a sociedade de acolhimento e com a autoimagem dos próprios estudantes.
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